terça-feira, 3 de setembro de 2013

Religião e Liberdade – Rascunhos sobre aprender a ser igreja


Ter uma identidade é parte de existir. Isso é realidade para pessoas e instituições. Todas as organizações têm identidade. Isto é, têm valores, visão e missão. Por mais precárias que sejam , todas as organizações as terão porque esses conceitos emergem da realidade vivenciada. Algumas elaboram, e outras deixam essas informações escondidas no coração de quem as fundou.
A pergunta que está em nosso coração como igreja é: Quais desafios temos diante de nós capazes de fortalecer nossa identidade e torna-la visível a todos?
Ser cristão diz respeito a um estilo de vida. A uma visão de homem e de mundo, diferente de todas as outras porque Jesus não veio salvar apenas a alma, mas a vida como um todo; a existência.
Como isso tudo se aplica a nós e à história e identidade que estamos construindo? Uma vez que compreendemos o teor de uma visão, precisamos compreender sua relevância em nossa caminhada e futuro.
A identidade de uma igreja nasce como uma resposta de Deus ao contexto em que ela está. Então, antes de entender o que é ser igreja precisamos perguntar: O que Deus espera de nós enquanto humanos? O que Deus espera de nós no contexto em que estamos?
A raiz da identidade de uma organização religiosa cristã está na resposta às perguntas acima. Não adianta importar modelos visionários. Não adianta fazer o que outras igrejas estão fazendo, ainda que tenha dado certo para elas. Deus tem um chamado específico a nós como igreja dentro de nosso contexto, que certamente nos orientará sobre o caminho a seguir.
Buscando inspiração em Deus sobre o sentido da missão
Observando a Bíblia como um todo, entendemos que a visão de Deus sempre será direcionada aos bem estar do ser humano e à organização de uma sociedade onde a justiça e a paz se beijem. Essa dinâmica permeia toda a Escritura, desde o Êxodo – texto fundante do judaísmo, até o apocalipse.
Ao ler as palavras de Deus a Moisés em Êx 3: 7,10 percebemos que foi o contexto de opressão que definiu seu chamado e caminhada pelos próximos 40 anos:
(7) Disse o Senhor: "De fato tenho visto a opressão sobre o meu povo no Egito, e também tenho escutado o seu clamor, por causa dos seus feitores, e sei quanto eles estão sofrendo.
(10) Vá, pois, agora; eu o envio ao faraó para tirar do Egito o meu povo, os israelitas".
Acostumamo-nos a ter uma leitura bairrista desnecessária desse texto, como se Deus olhasse apenas para Israel e desprezasse o resto da humanidade. Essa postura apenas nos impede de compreender o coração de Deus sobre toda a terra. Particularizamos falando do amor que Deus tem por Israel e esquecemos que Seu desejo a partir de Israel é cumprir a promessa que fez a Abraão: “Em ti serão benditas todas as famílias da terra”.
Na verdade essa deve ser a compreensão comum sobre o sentido da religião, pois uma religião que não liberta não pode estar em associação a um Deus que se mostra libertador em todas as instâncias de sua revelação.
Precisamos ampliar o escopo de nosso entendimento, a fim de compreender qual a missão e a visão de Deus para a igreja.
O nome Igreja Cristã Vida indica o que desejamos alcançar: A Vida como um todo, a partir da perspectiva Cristã.
Encontraremos essa ênfase da religião como fator de liberdade nos diversos períodos da história bíblica, mostrando assim uma linha contínua no desejo de Deus para os seres humanos ou, utilizando uma linguagem mais contemporânea: O que deveria nortear a declaração de visão e missão da igreja Cristã é a ênfase contínua que a Bíblia mostra sobre as expectativas de Deus quanto a um mundo melhor.
Encontramos a dinâmica da libertação e da justiça nos profetas (Is 42:6-7):
(6) "Eu, o Senhor, o chamei em retidão; segurarei firme a sua mão. Eu o guardarei e farei de você um mediador para o povo e uma luz para os gentios,
Por qual razão Deus chamou seu servo? A resposta está no verso seguinte:
(7) para abrir os olhos aos cegos, para libertar da prisão os cativos e para livrar do calabouço os que habitam na escuridão.
Mesmo em circunstâncias difíceis e em lugares inóspitos Deus enche nosso coração com sua visão para o mundo. E essa visão sempre será em direção à sociedade e aos seres humanos no sentido de libertar de qualquer tipo de escravidão ou opressão.
A visão que Deus entregou a Moisés é a mesma com a qual Jesus veio a esse mundo, em nome de Deus. Jesus disse que a profecia de Is 61:1-4 cumpriu-se em sua pessoa. E o teor desta profecia e também do ministério de Jesus é exatamente o mesmo teor do chamado de Moisés:
(16) Ele foi a Nazaré, onde havia sido criado, e no dia de sábado entrou na sinagoga, como era seu costume. E levantou-se para ler. (17) Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías. Abriu-o e encontrou o lugar onde está escrito: (18) "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos (19) e proclamar o ano da graça do Senhor". (20) Então ele fechou o livro, devolveu-o ao assistente e assentou-se. Na sinagoga todos tinham os olhos fitos nele; (21) e ele começou a dizer-lhes: "Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabaram de ouvir". (Lc 4:16-21)
Não poderia ser diferente com qualquer organização cristã. A visão de Deus para sua igreja é que ela seja transformadora. A pergunta que precisamos fazer é: “Estamos dispostos a ouvir o apelo de Deus em favor do mundo?”



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